terça-feira, 8 de março de 2011

Toscana. A terra do Chianti

Firenze e Siena disputaram, por séculos, para serem a capital da Toscana. Pinturas, esculturas, literatura, arquitetura, nas ciências como um todo eram as principais munições. Diante dessas batalha quem saiu como vitoriosos fomos nós, turistas e até mesmo a população local, que desfruta de um cenário ímpar onde cada paisagem serve de inspiração para uma nova obra-prima.

A primeira vez em Firenze foi meio que no susto. Eu estava em Verona, na Vinitaly com um amigo cliente. Num trem regional, seguimos em direção a Toscana para uma rápida passagem. Era madrugada quando chegamos e tivemos que tomar um táxi na estação central (Santa Maria Novella). Poucos minutos depois, de repente, surgia diante dos nossos olhos uma construção imponente, suntuosa e de frisos marcantes. Era o Duomo! Pelo avanço das horas, o melhor era ir para o hotel, um daqueles antigos albergos de 6 quartos, 1 funcionário e que você já fica com a chave da porta principal desde o primeiro dia. Poucos dias ali me confirmavam que o retorno tinha que acontecer com minha esposa.

Dois meses depois nós estávamos pisando em solo Toscano, na terra lilás da Fiorentina, do Chianti Clássico, dos girassóis, do olio extra virgem, da bistecca, da riboletta, da trippa, do pão toscano e tantas outras características que fazem dessa região um lugar realmente apaixonante, onde o tempo ganha uma importância ainda maior, focada no fazer e na contemplação simultânea.


Escolhi novamente o Hotel Colorado (http://www.hotelcoloradofirenze.net/) para ficarmos. Pela localização, preço e, claro, pela sua peculiaridade que contribuiria com eternas lembranças em nossa história pela Toscana.












Logo que chegamos, apenas deixamos as malas no quarto (10) e saímos. Fomos bater perna. A amada olhava de um lado para outro tentando, em vão, absorver tudo de uma vez. Eu, por outro lado, tentava, também em vão, explicar qualquer coisa e ao mesmo tempo absorver tudo. Chegando ao final daquela via (Camilo Cavour) eu sabia que estávamos a poucos passos do Duomo. Tapei os olhos dela e perguntei: “você está preparada?” Ela, sem saber exatamente sobre o que eu perguntava, tentava livrar-se das minhas mãos. De repente eu tirei as vendas e ela, sem piscar ficou de boca aberta por alguns instantes a contemplar. Era, talvez, um misto de susto (pela grandiosidade) com admiração. Admiração essa que tentávamos, também em vão, enquadrar numa fotografia. O Duomo e toda sua riqueza de detalhes nos davam as boas vindas. Começava ali, exatamente em um “giorno festivo, di San Giovanni” (24/06, nosso São Jõao, festa junina), o primeiro dia de nossas férias. “Calcio historico” (um tipo de futebol medieval), desfiles e um queima de fogos ao anoitecer vista por milhares da Ponte Vecchio faziam parte das nossas primeiras horas em Firenze.

 
  
 
As esquinas nos traziam surpresas gostosas (literalmente) ao mesmo tempo que luxuosas e deslumbrantes, afinal estávamos em uma das cidades mais elegantes de toda Europa, onde as principais grifes mantém seus ateliers e lojas sensacionais. O que nos encantava era esse paradoxo de luxo com vida cotidiana. Quer um exemplo? Estar de frente do atelier do Ermenegildo Zegna, com uma loja impecavelmente preparada para o próximo cliente e este, chegar de bicicleta enquanto na calçada passa um pai e uma criança curtindo um gelato. Se Firenze nos trazia esses encantos, mal sabíamos que o melhor estava por vir.



Ponte Vecchio



No dia seguinte fomos em busca do Chianti Clássico. Alugamos um carro e, para nós não podia ser um simples carro, queríamos um estilo extra para curtir a S-222 (estrada regional que liga Firenze a Siena, a Via del Chianti). Abordo de um Smart muito bem negociado numa locadora pequena, daquela que você negocia diretamente com o dono, nos sentíamos preparados para nos perder pelas paisagens da região.(http://www.citycarrent.org/)





Na saída da cidade logo deparamos com a auto-estrada. Uma coisa era certa: não era esse o caminho que queríamos. Auto-estrada é para quem está com pressa para chegar a Siena, Roma ou outra grande cidade. Nosso objetivo era oposto. Entramos, meio que por instinto, na primeira a direita onde uma plaquinha pequena e discreta indicava “Greve in Chianti”. Entramos naquela direção e logo a estrada já nos fazia sentir algo diferente.


Ela era sinuosa, estreita e pouquíssima movimentada. A paisagem parecia ser respeitada por aquela via estreita, pois ela nos impunha um máximo de velocidade (40 km/h). Nessa velocidade era possível contemplar a vegetação, o seu aroma, uma fumaça que saia de um casebre, um trator que preparava a terra e, de repente, não mais que de repente, uma placa nos confirmava: estávamos na S-222, a via do Chianti!  Depois dessa revelação vieram confirmações inesquecíveis: vinhedos contornando as colinas junto às oliveiras e cidadezinhas pitorescas com suas feiras de ruas, seus comércios locais, lojinhas de cooperativas e sons que nos impunha a acreditar que estávamos numa região rural das mais belas do mundo.  




Passamos por Greve, Gaiole, Panzano, Radda, mas teve uma cidadezinha que nos tocou (especialmente em mim) de maneira ainda mais forte (como se fosse possível!). Era Castellina in Chianti. Alí o tempo tinha parado e nós éramos testemunhas vivas. Charmosa, singela, simples. Não víamos sinais de turistas, de avanços tecnológicos de nenhum tipo e, pelo contrário, a natureza em perfeito equilíbrio com as obras do homem. Pequenos mercadinhos (bem pequenos mesmo), uma enoteca, uma loja da cooperativa (a Gallo Nero), uma janela com uma jardineira prá lá de florida, pássaros, crianças brincando... A harmonia do local era tão grande que houve momento em que nos sentíamos intrusos.

Mercadinho de Castellina

Toda a Toscana nos trouxe nos dias seguintes surpresas que jamais esqueceremos. Aliás, elas são tão marcantes que acabam comprometendo conhecer novos roteiros desse mundo tão grande e cheios de belíssimos lugares, pois sempre que pensamos nas próximas férias, ficamos sempre tentados a retornar a Terra del Chianti.









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